No Verão de há 15 anos, não era a Expo ’98 nem o Portugal
“in fashion” de Guterres que faziam sonhar o povo. Todos sabíamos que o que
aquecia os nossos corações era o aproximar de mais uma época de bola… e esta
colecção em particular, de uma qualidade gráfica a roçar os melhores trabalhos
de 1940 (coincidentemente, outro ano de exposição lusa ao mundo).
Na pérola do Atlântico, este guardião belga cimentava a sua
posição entre os postes. Um nome forte, suficientemente exótico mas
razoavelmente pronunciável, e um queixo quadrado à lá Stan Smith. Foi o último
de uma linhagem de guardiães da terra do Tintin que adocicaram as nossas
cadernetas, depois dos bons auspícios de Hubart, passando pelo anti-vedetismo
de Preud’Homme e decaindo para a marreca do De Wilde. Van der Straeten caiu
injustamente no esquecimento, mas se quiserem podem visitar a sua página no Facebook e segui-lo só por uma questão de compaixão. Todos os likes serão
bem-vindos e ajudarão Van der Straeten a fazer as pazes com o seu ego.
À frente de Straeten, Alex Bach. A grande dúvida à volta de
Bach era se pronunciá-lo como “bache”, “baque” ou “barrh” – chamá-lo só Alex era
quase sacrilégio depois do retumbante êxito de Alex, o Bunbury. A outra dúvida era se o tipo era mesmo descendente do compositor, o que
poderia conferir-lhe um certo prestígio que nunca justificou em campo. Com tantas
indecisões, Alex not Beethoven demorou a afinar marcações, falhou alguns tempos
de salto, deu sinfonias de como não jogar em linha e foi escrever árias para
outra freguesia finda esta época… para nunca mais voltar a jogar fora do seu
país. O Passo Fundo, o Sapiranga e o Chapecoense que o digam.
Rodando a agulha para Chaves, damos de caras com uma cara
sobejamente conhecida… aparentemente. Este parece, numa primeira instância, o
velho Filipe, tão largamente dissertado nestas páginas etéreas. Mas numa vista
mais cuidada, notamos que, na verdade, é o seu gémeo perdido, o Filife. Filipe
era devastação, Filife era criação. Filipe cravava pitons, Filife cravava
trocos para a disco. Filife é uma contracção anglicista de “feel” + “life”,
“sente a vida”. Como todos os que saboreiam a vida no limite, Filife teve vida
curta e desapareceu dos radares após esta temporada. Filipe não ficou atrás e
também se eclipsou nesta temporada dos palcos maiores do futebol indígena.
No velho Salgueiral ainda pululavam estrelas cadentes do
futebol. E quando estas faziam finca-pé e teimavam em rejeitar o solene Vidal
Pinheiro, então arranjavam-se imitações que faziam corar os originais. Senão de
espanto, talvez de embaraço. Eis Schuster, não o genial alemão, mas o
prodigioso transmontano Rui Miguel, que fez gala do seu penteado à tigela e da
sua cara sacada a um anúncio seminal das batatas Pála-Pála. Viveu a “personna”
de Schuster (sem “c”) com muito afinco. Isso levou-o a inquietar-se rapidamente
com os ares de Paranhos, desatando a correr meio mundo. Com direito a visitar o
óbvio Chipre, onde distribuía autógrafos em que assinava “I’m The Real-Fake
Schuster”.
Voltemo-nos agora para Coimbra, onde damos de caras com uma
cara bem conhecida do showbiz internacional: nada menos que o aclamado Febras.
Não, não é o Febras, que também é uma eminência à sua maneira, mas é o Mickey.
Médio laborioso e conhecido mundialmente por namorar a ratinha mais famosa do
Universo, foi mui respeitado nas hostes beirãs, nomeadamente pela claque Mancha
Negra. Até que caiu a moeda e pensaram “Oh diabo, então a Mancha Negra apoia o
Mickey? Temos sido muito Patetas…”. O paradoxo atingiu dimensões colossais e,
aqui d’el Coronel Cintra, Mickey foi forçado ao exílio.
A mística conimbricense, contudo, continuou presente nas mãos
do Sr. Vítor Alves. É verdade, houve um Pedro Roma antes de Pedro Roma. Este
secular senhor, aliás, já pouco mais fazia do que carregar a mística, pois
jogar era coisa que já lhe pesava demasiado nas articulações. E só Deus sabia o
quanto lhe custava aguentar com a mística e quantos emplastros foram
necessários para levar a mística a bom porto. Nesse sentido, o trabalho que
menos lhe custava era babar-se para uma garrafa enquanto estava no banco,
garrafa essa que depois era ofertada como “água mineral da boa” aos caloiros da
equipa.
Nesta turma de estudantes pontificava ainda o monossilábico
Tó Sá, bastas vezes referenciado por aqui, mas cujo perfil só agora é
condignamente exposto. Foi lateral de créditos firmados, pertencente a uma
casta em que abundavam Tós no panorama nacional. E Zés e médios obscuros com II
no nome também. E chegava a haver, numa conjugação perfeita, o Tó Zé II. E Tó
Zés e Zé Tós no mesmo plantel. E quando Sá ainda era sinónimo de apelido de
goleador de culto para alguns (sim, estamos em pensar em ti, Moreira de Sá)
(não, por acaso não estávamos a pensar em ti, Orlando Sá) e não nome do meio
para futuras vedetas pseudo-boxistas.
Pois, o Bira… Bira? “Mas quem é o Bira?”, é a nossa pergunta
e a dos próprios companheiros de equipa, desde o Hugo Costa ao Caju. Se o Bira
era bera… é bem provável que sim. A qualidade gráfica do cromo, essa sim, é
indiscutivelmente (olá, Guilherme Aguiar) bera. Podemos dizer que Bira gostava
de beber cerveja por uma palhinha. Ou podemos dizer que Bira dava cambalhotas
sempre que ouvia Chitãozinho & Xoróró. Ou ainda que ele contava sempre
aquela anedota do palhaço que foi encontrado no deserto todo nu e com um
baralho de cartas na mão e ninguém percebia. Pode ser verdade, pode ser
especulação, ninguém sabe e ninguém se importa. E isto é tudo o que se nos
apraz dizer sobre o Bira. Já não é mau.
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